Fratura da clavícula: saiba tudo sobre a fratura mais comum do ombro

Fernando Brandão • abr. 20, 2019

Qual a importância da clavícula no ombro?

A clavícula é um osso curvo que conecta o tórax ao membro superior . Ela dá forma à parte superior do ombro, acima da região peitoral, e é facilmente visível. A clavícula não tem cobertura muscular, como outros ossos, e é palpável logo abaixo da pele . O posicionamento correto da escápula durante a movimentação do ombro depende da integridade da clavícula.

Aspecto externo da clavícula - a clavícula tem influência na altura do ombro e conecta o tórax ao membro superior

Por que a fratura da clavícula é tão comum?

A clavícula é um osso relativamente fino, com formato curvo , responsável pela sustentação do peso do braço . A largura e a altura dos ombros são mantidas pela clavícula. Quando uma pessoa sofre uma queda sobre o ombro , toda a energia do impacto é transferida para a clavícula , causando a fratura do osso. Algumas vezes, pode existir o impacto de um objeto sobre a clavícula, causando a fratura, mas isto é menos comum. O mecanismo mais comum é a queda sobre o ombro, ocorrido principalmente em quedas de bicicleta, acidentes de moto ou acidentes esportivos .

O mecanismo mais frequente na fratura da clavícula é a queda com trauma dieto do ombro contra o solo.

Como saber se a clavícula está fraturada?

A fratura da clavícula após uma queda geralmente é rapidamente percebida , pois costuma existir muita dor no local, inchaço e alteração da aparência do ombro . Intuitivamente a pessoa com fratura da clavícula utiliza a mão do lado não fraturado para apoiar o cotovelo do lado que sofreu a fratura na tentativa de diminuir a dor. É comum também existirem escoriações na pela na parte lateral do ombro , mostrando o local onde houve o impacto contra o solo.

Quando existe suspeita de fratura da clavícula, é importante que se procure um atendimento médico logo que possível . O diagnóstico é realizado apenas com radiografias na maioria dos casos . A realização de tomografia ou ressonância magnética são menos necessários no diagnóstico da fratura da clavícula, e são mais utilizados quando a suspeita de outras lesões do ombro .

Radiografia demonstra fratura da clavícula (terço médio) com desvio e fragmentação.

Quais os tipos de fratura da clavícula?

A maioria das fraturas da clavícula ocorre na porção central do osso, que é a região com menor resistência óssea e a que sofre maior força de torção e alavancagem quando o peso do corpo é transferido para o ombro. Estas são as chamadas fraturas do tipo I e representam 80% dos casos .

Classificação de Allman para a fraturas da clavícula - as fraturas do terço médio (tipo I) representam 80% dos casos.

As fraturas da parte lateral (tipo II) , que fica mais próxima do ombro, também são relativamente comuns e têm maior risco de envolverem lesões dos ligamentos que ligam a clavícula à escápula , o que pode causar instabilidade. As menos comuns são as fraturas da parte mais próxima do tórax (chamada tecnicamente de porção medial da clavícula). Por ser uma região mais estável e com maior resistência óssea, raramente é fraturada.

Fratura da extremidade lateral da clavícula (terço lateral) com desvio dos fragmentos.

Como é realizado o tratamento da fratura da clavícula?

O tratamento da fratura da clavícula depende de alguns fatores:

  • Tipo da fratura (qual a região acometida)
  • Desvio (afastamento) entre os fragmentos da fratura
  • Presença de outras lesões (ligamentos, outras lesões ósseas)
  • Nível de atividade do paciente

Nas fraturas em que os fragmentos estão com bom alinhamento e que não existem outras lesões associadas (ligamentos ou outras fraturas), o tratamento é realizado com imobilização com tipóia , por um período que pode variar de 6 a 8 semanas , podendo ser maior em alguns casos.

Tipóia de lona utilizada no tratamento da fratura da clavícula - o tempo de uso varia de 6 a 8 semanas, dependendo do tipo da fratura.

Quais casos devem ser operados?

A escolha do tratamento conservador ou cirúrgico na fratura da clavícula é um tema controverso. Classicamente, a maioria dos casos era tratada de forma não-cirúrgica , mas algumas dificuldades e complicações das fraturas não operadas fizeram com que aumentassem as indicações de cirurgias nos últimos anos .

Atualmente, algumas características da fratura são consideradas para a indicação do tratamento cirúrgico:​

  • Desvio (afastamento) ≥ 2,0 cm entre os fragmentos da fratura
  • Encurtamento ≥ 2,0 cm do comprimento total da clavícula
  • Ausência de contato ósseo entre os fragmentos
  • Deformidade óssea com lesão da pele
  • Desnivelamento significativo do nível dos ombros

Outros fatores, como o nível de atividade do paciente (pessoas que necessitam retorno precoce a atividades esportivas retornam mais rápido com a cirurgia), lesões associadas (outras fraturas), condição clínica, entre outros.

Radiografia demonstra fratura da clavícula com desvio maior que 2,0 cm e ausência de contato ósseo

Quais as vantagens da cirurgia na fratura da clavícula?

Quando a cirurgia é indicada, os principais benefícios são:

  • Diminuição do risco de falha de consolidação - as fraturas operadas têm uma chance de falha de consolidação menor do que 2%, enquanto as fraturas não operadas têm até 15% de chance de não consolidar , dependendo do padrão da fratura (1)
  • Melhor alinhamento ósseo - as fraturas não operadas frequentemente consolidam com algum grau de deformidade óssea , que costuma ser evidente clinicamente. A importância deste desalinhamento no funcionamento do ombro é controverso. Alguns estudos demonstram que fraturas consolidadas com encurtamento causam prejuízo funcional a longo prazo , enquanto outros estudos demonstram que esta deformidade tem mais repercussão estética do que funcional . Este tema permanece controverso na literatura e a decisão do tratamento deve ser feita caso a caso, de acordo com o desvio da fratura.
  • Retorno mais precoce a atividades físicas - a cirurgia permite a realização de movimentos com o ombro de forma mais precoce e o uso de imobilização por período mais curto. Para algumas pessoas este fato pode pesar na escolha do tratamento, por exemplo no caso de atletas.
Imagem demonstra aspecto do ombro com fratura da clavícula consolidada com desvio ósseo, consolidação viciosa

Como é realizada a cirurgia de fratura da clavícula?

O tipo de cirurgia mais utilizada para a fratura da clavícula é a fixação com placa e parafusos . A cirurgia é realizada por uma incisão cirúrgica sobre a clavícula, os fragmentos da fratura são alinhados da maneira mais anatômica possível e são fixados com uma placa e parafusos. Existem diferentes tipos de placas e materiais que podem ser utilizados. Nos últimos anos, tem aumentado o uso de placas pré-moldadas ao formato curvo da clavícula , que facilitam o procedimento, mas também podem ser utilizadas placas moldáveis durante a cirurgia. A composição do material costuma ser o aço inoxidável ou titânio.

A cirurgia é realizada com anestesia geral, e costuma ser um procedimento de porte médio, com poucos riscos cirúrgicos. No pós-operatório, o paciente fica imobilizado com tipóia por aproximadamente 4 semanas. Em alguns casos a tipóia pode ser retirada antes deste prazo, de forma gradual para atividades leves, a depender do padrão da fratura e da orientação do ortopedista. Os pacientes operados, geralmente, conseguem realizar atividades funcionais de vida diária de forma mais precoce , em relação aos não-operados.

Tipos de placa pré-moldadas para a fixação de fratura da clavícula.
Radiografia de fratura da clavícula fixada com placa bloqueada pré-moldada

Quais complicações podem ocorrer na cirurgia?

A cirurgia de fixação da clavícula é um procedimento seguro, com baixos riscos de complicações . Os eventos mais comuns costumam ter menor gravidade e serem transitórios. Um deles é uma alteração de sensibilidade na pele próximo à incisão, chamada área de parestesia , que pode existir em alguns pacientes. Este sintoma costuma diminuir ao longo do tempo e não causa limitações . Outro evento de menor gravidade é um incômodo pela presença do material de fixação , que pode ser solucionado com a retirada do material, caso seja persistente.

Entre os eventos que podem prolongar o tempo de tratamento, estão a infecção, que é tratada com antibióticos e eventualmente com cirurgias adicionais, e a falha ou soltura da fixação, que geralmente necessita de outra cirurgia para correção. Felizmente, os riscos destes eventos são muito baixos (menores do que 2%) . Riscos clínicos e anestésicos também são muito baixos neste tipo de cirurgia, o que faz com que o procedimento seja considerado seguro dentre as cirurgias ortopédicas.

É necessário retirar a placa após a cirurgia?

A maioria dos pacientes não necessita retirar a placa e não apresentam sintomas relacionados a ela. Pacientes que apresentam dor ou alteração da pele causada pelo implante podem solicitar a retirada, ou pacientes que apresentem alguma complicação, como infecção ou falha de consolidação da fratura . A cirurgia de retirada é realizada com anestesia geral, com rápida recuperação.

Uma dúvida frequente é se a placa de clavícula costuma ser detectada em aeroportos ou em outros tipos de detectores de metais. Isto não costuma ocorrer porque os implantes de clavícula são pequenos e com baixa quantidade de metal. Próteses de joelho e quadril são os implantes com maior chance de serem detectados.

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