Tendinopatias: como ocorrem e como é o processo de regeneração

Fernando Brandão • abr. 20, 2019

Aspectos Gerais

As dores e disfunções relacionadas aos tendões representam o problema mais frequente dentre as queixas osteomusculares. A diferenciação entre os processos patológicos que acometem os tendões é essencial para abordagem terapêutica correta.

Terminologia

Diferentes termos são utilizados por profissionais de saúde para se referirem a alterações dos tendões, muitas vezes usados de forma confusa. Os 3 termos utilizados na prática médica são:

  • Tendinopatia : refere-se a alterações tendíneas de forma genérica.
  • Tendinite : termo utilizado para designar alterações agudas com maior componente inflamatório.
  • Tendinose : termo utilizado para alterações degenerativas secundárias a sobrecarga.

Estrutura celular dos tendões

Tendões são transmissores de força entre a unidade muscular e o componente ósseo, estando sujeitos a alta concentração de stress mecânico. Os tendões são formados por dois compartimentos:

Intrínseco: corpo do tendão

  • Matriz extracelular de colágeno (80% colágeno tipo I)
  • Fibroblastos (tenócitos)

Extrínseco: cobertura sinovial

  • Paratendão (bainha tendínea)
  • Epitendão (bainha subtendão)
  • Endotendão (bainha entre os fascículos)

Tendinose

É o processo degenerativo no qual ocorre desarranjo estrutural na matriz de colágeno excedendo a capacidade do tecido celular de reposição. Causas:

  • Sobrecarga mecânica
  • Insuficiência vascular / celular
  • Misto (sobrecarga + insuficiência)

Regeneração tendínea

Ocorre em padrão semelhante à visão clássica de cicatrização de feridas: uma matriz inicial formada por colágeno tipo III fornece integridade mecânica à área de falha, funcionando como “template” para o remodelamento da matriz definitiva de colágeno maduro (tipo I).

Nos tendões, o processo de regeneração depende do componente extrínseco (bainhas) para a migração celular.

Fases da regeneração

As fases de regeneração dos tendões seguem uma sequência semelhante a outras lesões de tecidos, como músculos e ossos. Estas fases aplicam-se para macro e microlesões:

  • Sangramento com formação de coágulo
  • Recrutamento de células imunológicas e progenitoras formando tecido de granulação
  • Remodelamento inicial
  • Remodelamento tardio (marcada pela diminuição da neo-vascularização e neo-inervação)

Resolução vs. Cronificação

O desfecho do processo de regeneração de uma tendinose é variável. Num ambiente favorável mecanicamente, ocorre a cicatrização funcional com retorno da função, independentemente de existirem áreas cicatriciais no corpo do tendão.

Quando existe uma solicitação mecânica desfavorável somada a um ambiente biológico alterado (hipovascularização) pode ocorrer um estado crônico de inflamação caracterizado por níveis patológicos aumentados de colágeno tipo III com poucas ligações (“crosslinks”) entre as fibras tendíneas.

Aspectos sobre o tratamento

  • Principal objetivo: proporcionar ambiente mecânico adequado para o processo de regeneração
  • Drogas e medidas locais anti-inflamatórias aliviam sintomas e contribuem para quebrar o ciclo inflamatório crônico, mas não influenciam diretamente o processo de regeneração
  • Novas terapias que estimulam o processo regenerativo (terapia de ondas de choque, terapias celulares) mostram resultados iniciais promissores, mas ainda necessitam comprovação científica

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