
Fernando Brandão
Tendinopatias: como ocorrem e como é o processo de regeneração
Atualizado: 21 de mar. de 2021
Aspectos Gerais
As dores e disfunções relacionadas aos tendões representam o problema mais frequente dentre as queixas osteomusculares. A diferenciação entre os processos patológicos que acometem os tendões é essencial para abordagem terapêutica correta.
Terminologia
Diferentes termos são utilizados por profissionais de saúde para se referirem a alterações dos tendões, muitas vezes usados de forma confusa. Os 3 termos utilizados na prática médica são:
Tendinopatia: refere-se a alterações tendíneas de forma genérica.
Tendinite: termo utilizado para designar alterações agudas com maior componente inflamatório.
Tendinose: termo utilizado para alterações degenerativas secundárias a sobrecarga.
Estrutura celular dos tendões
Tendões são transmissores de força entre a unidade muscular e o componente ósseo, estando sujeitos a alta concentração de stress mecânico. Os tendões são formados por dois compartimentos:
Intrínseco: corpo do tendão
Matriz extracelular de colágeno (80% colágeno tipo I)
Fibroblastos (tenócitos)
Extrínseco: cobertura sinovial
Paratendão (bainha tendínea)
Epitendão (bainha subtendão)
Endotendão (bainha entre os fascículos)

Tendinose
É o processo degenerativo no qual ocorre desarranjo estrutural na matriz de colágeno excedendo a capacidade do tecido celular de reposição. Causas:
Sobrecarga mecânica
Insuficiência vascular / celular
Misto (sobrecarga + insuficiência)
Regeneração tendínea
Ocorre em padrão semelhante à visão clássica de cicatrização de feridas: uma matriz inicial formada por colágeno tipo III fornece integridade mecânica à área de falha, funcionando como “template” para o remodelamento da matriz definitiva de colágeno maduro (tipo I).
Nos tendões, o processo de regeneração depende do componente extrínseco (bainhas) para a migração celular.
Fases da regeneração
As fases de regeneração dos tendões seguem uma sequência semelhante a outras lesões de tecidos, como músculos e ossos. Estas fases aplicam-se para macro e microlesões:
Sangramento com formação de coágulo
Recrutamento de células imunológicas e progenitoras formando tecido de granulação
Remodelamento inicial
Remodelamento tardio (marcada pela diminuição da neo-vascularização e neo-inervação)
Resolução vs. Cronificação
O desfecho do processo de regeneração de uma tendinose é variável. Num ambiente favorável mecanicamente, ocorre a cicatrização funcional com retorno da função, independentemente de existirem áreas cicatriciais no corpo do tendão.
Quando existe uma solicitação mecânica desfavorável somada a um ambiente biológico alterado (hipovascularização) pode ocorrer um estado crônico de inflamação caracterizado por níveis patológicos aumentados de colágeno tipo III com poucas ligações (“crosslinks”) entre as fibras tendíneas.
Aspectos sobre o tratamento
Principal objetivo: proporcionar ambiente mecânico adequado para o processo de regeneração
Drogas e medidas locais anti-inflamatórias aliviam sintomas e contribuem para quebrar o ciclo inflamatório crônico, mas não influenciam diretamente o processo de regeneração
Novas terapias que estimulam o processo regenerativo (terapia de ondas de choque, terapias celulares) mostram resultados iniciais promissores, mas ainda necessitam comprovação científica
Referências