As inflamações e lesões dos tendões representam o problema ortopédico mais comum
Entender os tipos de alterações que acometem os tendões é essencial para o tratamento correto. Diferentes termos são utilizados por profissionais de saúde para se referirem a alterações dos tendões, muitas vezes usados de forma confusa. Os 3 termos utilizados na prática médica são:
- Tendinopatia : refere-se a alterações tendíneas de forma genérica.
- Tendinite : termo utilizado para designar alterações agudas com maior componente inflamatório.
- Tendinose : termo utilizado para alterações degenerativas secundárias a sobrecarga.
Estrutura celular dos tendões
Tendões são transmissores de força entre a unidade muscular e o componente ósseo, estando sujeitos a alta concentração de stress mecânico. Os tendões são formados por dois compartimentos:
Intrínseco: corpo do tendão
- Matriz extracelular de colágeno (80% colágeno tipo I)
- Fibroblastos (tenócitos)
Extrínseco: cobertura sinovial
- Paratendão (bainha tendínea)
- Epitendão (bainha subtendão)
- Endotendão (bainha entre os fascículos)

Tendinose
É o processo degenerativo no qual ocorre desarranjo estrutural na matriz de colágeno excedendo a capacidade do tecido celular de reposição. Causas:
- Sobrecarga mecânica
- Insuficiência vascular / celular
- Misto (sobrecarga + insuficiência)
Regeneração tendínea
Ocorre em padrão semelhante à visão clássica de cicatrização de feridas: uma matriz inicial formada por colágeno tipo III fornece integridade mecânica à área de falha, funcionando como “template” para o remodelamento da matriz definitiva de colágeno maduro (tipo I).
Nos tendões, o processo de regeneração depende do componente extrínseco (bainhas) para a migração celular.
Fases da regeneração
As fases de regeneração dos tendões seguem uma sequência semelhante a outras lesões de tecidos, como músculos e ossos. Estas fases aplicam-se para macro e microlesões:
- Sangramento com formação de coágulo
- Recrutamento de células imunológicas e progenitoras formando tecido de granulação
- Remodelamento inicial
- Remodelamento tardio (marcada pela diminuição da neo-vascularização e neo-inervação)
Resolução vs. Cronificação
O desfecho do processo de regeneração de uma tendinose é variável. Num ambiente favorável mecanicamente, ocorre a cicatrização funcional com retorno da função, independentemente de existirem áreas cicatriciais no corpo do tendão.
Quando existe uma solicitação mecânica desfavorável somada a um ambiente biológico alterado (hipovascularização) pode ocorrer um estado crônico de inflamação caracterizado por níveis patológicos aumentados de colágeno tipo III com poucas ligações (“crosslinks”) entre as fibras tendíneas.
Aspectos sobre o tratamento
- Principal objetivo: proporcionar ambiente mecânico adequado para o processo de regeneração
- Drogas e medidas locais anti-inflamatórias aliviam sintomas e contribuem para quebrar o ciclo inflamatório crônico, mas não influenciam diretamente o processo de regeneração
- Novas terapias que estimulam o processo regenerativo (terapia de ondas de choque, terapias celulares) mostram resultados iniciais promissores, mas ainda necessitam comprovação científica
Referências
Conheça o Profissional
Dr. Fernando Brandão de Andrade e Silva
CRM-SP: 112045
- Graduação em medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
- Especialista em cirurgia do ombro e cotovelo pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP (IOT-HCFMUSP).
- Doutorado em Ortopedia pelo Departamento de Ortopedia e Traumatologia da FMUSP (DOT-FMUSP).
- Título de especialista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
- Título de especialista em cirurgia do ombro e cotovelo pela Sociedade Brasileira de Cirurgia do Ombro e Cotovelo (SBCOC).
- Médico do Grupo de Ombro e Cotovelo do Hospital da Clínicas da USP. Atuação na área de ensino e pesquisa.
- Dr Fernando atua no tratamento das lesões do ombro e cotovelo, há mais de 15 anos, e desenvolve pesquisas na área, no Departamento de Ortopedia da USP.
